Wednesday, March 25, 2009

Fragmentos#

Wols


o dia é fragmentado e a linha da consciência descontínua

**

À espera numa máquina de bilhetes do metro, noto que cai uma moeda de 5 cc de uma mulher à minha frente. Aviso-a, porque ela parece não reparar. Ela olha para mim e depois para a moeda no chão e balbucia qualquer coisa que não entendi. A mulher usou a máquina e foi-se embora. Nem eu me baixei pelos 5 cc.

**

Numa consulta num grande hospital, um médico sr. professor escreve no computador a um ritmo dolorosamente lento ou lentamente doloroso. O teclado tac-tac-tac. À sua frente, um homem alegadamente esquizofrénico tenta explicar porque não se masturba. E o doutor vai registando tac-tac-tac.

**

Vem num livro que estou a ler: " O corpo do filósofo é hiperestésico". Ou seja, sente tudo como se estivesse em carne viva, sente demasiado. "simultaneamente frágil e forte", "destinado ao conhecimento pelos abismos".
Portanto, é igual ao corpo dos poetas e é igual ao meu.
Lembrei-me do Herberto Hélder, num livro mais obscuro, quando diz do poeta "És sensível - demoníaco", "possuis uma alta voltagem - tu sim, poeta inédito". "Vemos que te interessas".

1 comment: