Tuesday, June 8, 2010

Gestão de custos

Robert Longo

Em vez de um livro de poesia (o último do Gastão Cruz), tive de comprar pensos para o herpes labial.

Wednesday, April 7, 2010

A natureza aérea - comentário a um filme


O recente filme Up in the air de Jason Reitman com protagonismo de George Clooney é um bom material para estudar a ideologia contemporânea.
A película trata de um homem - Ryan (Clooney) - que, a mando de uma grande empresa, tem de se deslocar constantemente a diversos pontos dos EUA com o fim específico de despedir trabalhadores de outras firmas assim estas requeiram os seus serviços. A grande quantidade de trabalho, devida aos frequentes despedimentos em massa, torna-o uma das pessoas do mundo com mais milhas aéreas percorridas, alguém cuja verdadeira casa se situa no ar e não em terra. Um dia, uma psicóloga recém-contratada para a empresa de Ryan decide implementar um sistema de despedimento à distância, por vídeo-conferência. Ryan manifesta-se contra este sistema por o achar desumano e ineficaz. Grande parte do filme desenrola-se enquanto viajam pelo país fora para pôr meio mundo no olho da rua, com o protagonista a tentar mostrar à jovem psicóloga a dura realidade do acto de despedimento. Simultaneamente, Ryan vive o drama do sedentarismo vs. nomadismo; criar família e raízes ou manter a louca vida de aeroportos e quartos de hotel. No fim, a jovem psicóloga sai da empresa por não aguentar a carga emocional, o que é positivamente valorizado por Ryan. Este, apesar de tudo, fica na empresa e opta por manter o seu estilo de vida.

Aqui temos um retrato actual do capitalismo. Face a uma grande crise, a adaptação do sistema leva à perda de milhões de postos de trabalho. Ryan é a corporização do mecanismo capitalista de acção. Despede friamente centenas de pessoas, mas, ambiguamente, ao longo do filme percebe-se a sua preocupação por manter esse acto humano e respeitoso. Tal é a cortesia actual do sistema político-económico: precipitar um rumo inexorável, mas comunicar que tudo irá correr pelo melhor, que o bem-estar de cada um é uma prioridade. Despedimento após despedimento, Ryan repete uma máxima a trabalhadores desesperados (algo mais ou menos assim): "Lembre-se que todos os que vieram a ter sucesso e a conquistar o mundo estiveram sentados no seu lugar". O despedimento é afinal algo bom, há sempre esperança de se vir a ter uma vida melhor.
Porém, para mim, o busílis do filme está precisamente no aspecto relacionado com o seu título, Up in the air. O título do filme é das frases que mais bem caracterizam o sistema capitalista. A sua natureza não pertence a nenhum lugar nem a nenhuma cultura, não tem raízes: é aérea, transversal. Por isso se tem adaptado tão bem a diversas realidades culturais, regimes democráticos ou não. Neste sentido, o filme é um objecto simbólico que representa a suprema liberdade do capitalismo como entidade própria: já nem os EUA o podem controlar, pois ele, para sua sobrevivência, coloca na precariedade o bom e velho cidadão trabalhador americano. Nada há a fazer. O filme explicita, portanto, o descolamento deste sistema económico do lugar onde mais floresceu em direcção a um espaço etéreo e apátrida. Ryan, o arcanjo capitalista, tem de seguir o seu destino nómada.

Sunday, March 28, 2010

"Qui est ici est d'ici"


Depois de perguntar o seu nome, o homem quis saber de onde era ela. O tom, ofensivo.

Ter-lhe-ia respondido:
"Sou daqui."
A genealogia não deveria remontar além do presente.


Monday, February 15, 2010

escarafunchar nos depósitos de livros

Fui dar com isto numa daquelas bizarras livrarias das estações de metro.
O autor é um artista plástico de que gosto. O livro, porém, não é brilhante. Tem os seus momentos bons.
Fica o título.
(a disposição das palavras faz até uma espécie de cruz).

Wednesday, January 27, 2010

Ídolos

Pintura: Armin Rohr

Quando somos novos não hesitamos em pendurar pelas paredes retratos das figuras mais ôcas e artificiais que, não obstante, nos fascinam nessa altura.
Crescemos e passamos a admirar gajos e gajas realmente interessantes. Ficamos fãs de gente bestial.
Mas nem no wallpaper do computador nos atrevemos a meter foto alguma destes ídolos.
Crescer é também evitar compromissos.

Monday, January 25, 2010

quem nos segue

Pintura: Miquel Werte


Quem nos segue pode sempre ser quem vai à nossa frente. Alguém que caminha um pouco adiante de nós mas que sabe precisamente para onde vamos.

Tuesday, January 19, 2010

Vampiros e marxismo



A moda dos vampiros no mainstream cultural pode não ter qualquer explicação, contudo é interessante pensar numa.

A identificação com os vampiros por parte de nós, cidadãos do mundo ocidental, pode ser algo subtil e profundo. Não seremos também seres com uma aparente normalidade e banalidade na vida que simultaneamente, por motivos que não conseguimos controlar, sugamos a vida de outros, mais distantes, que são pobres para que possamos ser ricos?

É a culpa que partilhamos com os vampiros que nos faz empatizar. Sabemos que também nós temos longos caninos afilados implorando por mais.

Friday, January 8, 2010

comunicação da ciência

Museu de História Natural, Londres