Quando nasci fizeram um livro.
Para melhor inscrever a minha existência, para mais tarde eu fazer uma auto-arqueologia. Pistas para descobrir o que está por detrás da cortina.
Na primeira página escreveram:
"You were born. And so you're free. So, happy birthday".
É de uma música da Laurie Anderson. Fiquei assim inevitavelmente ligado à Laurie Anderson, para o resto da minha vida. Ainda bem.
Tuesday, March 31, 2009
Saturday, March 28, 2009
O Descascador de Borboletas
James Auger. ISO-PHONE. The Iso-phone is a telecommunications concept providing a service that can be described simply as a meeting of the telephone and the floatation tank. By blocking out peripheral sensory stimulation and distraction, the Iso-phone creates a telephonic space of heightened purity and focus.
Foi a jogar ao Stop.
Alguém sugeriu a categoria "Objectos que não existem mas que poderiam perfeitamente existir". Eu teria provavelmente 6 ou 7 anos.
Tinha saído a letra D. Foi então que um dos jogadores inventou o Descascador de Borboletas. Como me havia de esquecer alguma vez do Descascador de Borboletas? Eu com 6 ou 7 anos. A pensar em objectos que não existem mas que poderiam perfeitamente existir (exercício primordial dum designer, diriam).
Hoje continuo a pensar em vidas que não existem mas que poderiam perfeitamente existir;
Em mundos que não existem mas que poderiam perfeitamente existir.
Wednesday, March 25, 2009
Fragmentos#
Wols
o dia é fragmentado e a linha da consciência descontínua
**
À espera numa máquina de bilhetes do metro, noto que cai uma moeda de 5 cc de uma mulher à minha frente. Aviso-a, porque ela parece não reparar. Ela olha para mim e depois para a moeda no chão e balbucia qualquer coisa que não entendi. A mulher usou a máquina e foi-se embora. Nem eu me baixei pelos 5 cc.
**
Numa consulta num grande hospital, um médico sr. professor escreve no computador a um ritmo dolorosamente lento ou lentamente doloroso. O teclado tac-tac-tac. À sua frente, um homem alegadamente esquizofrénico tenta explicar porque não se masturba. E o doutor vai registando tac-tac-tac.
**
Vem num livro que estou a ler: " O corpo do filósofo é hiperestésico". Ou seja, sente tudo como se estivesse em carne viva, sente demasiado. "simultaneamente frágil e forte", "destinado ao conhecimento pelos abismos".
Portanto, é igual ao corpo dos poetas e é igual ao meu.
Lembrei-me do Herberto Hélder, num livro mais obscuro, quando diz do poeta "És sensível - demoníaco", "possuis uma alta voltagem - tu sim, poeta inédito". "Vemos que te interessas".
o dia é fragmentado e a linha da consciência descontínua
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À espera numa máquina de bilhetes do metro, noto que cai uma moeda de 5 cc de uma mulher à minha frente. Aviso-a, porque ela parece não reparar. Ela olha para mim e depois para a moeda no chão e balbucia qualquer coisa que não entendi. A mulher usou a máquina e foi-se embora. Nem eu me baixei pelos 5 cc.
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Numa consulta num grande hospital, um médico sr. professor escreve no computador a um ritmo dolorosamente lento ou lentamente doloroso. O teclado tac-tac-tac. À sua frente, um homem alegadamente esquizofrénico tenta explicar porque não se masturba. E o doutor vai registando tac-tac-tac.
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Vem num livro que estou a ler: " O corpo do filósofo é hiperestésico". Ou seja, sente tudo como se estivesse em carne viva, sente demasiado. "simultaneamente frágil e forte", "destinado ao conhecimento pelos abismos".
Portanto, é igual ao corpo dos poetas e é igual ao meu.
Lembrei-me do Herberto Hélder, num livro mais obscuro, quando diz do poeta "És sensível - demoníaco", "possuis uma alta voltagem - tu sim, poeta inédito". "Vemos que te interessas".
Tuesday, March 24, 2009
A noite e o riso
Sunday, March 22, 2009
design and the elastic mind
Design and the Elastic Mind explores the reciprocal relationship between science and design in the contemporary world by bringing together design objects and concepts that marry the most advanced scientific research with attentive consideration of human limitations, habits, and aspirations
Uma exposição online interactiva no sítio do MoMA
Friday, March 20, 2009
A identidade
Wednesday, March 18, 2009
Tuesday, March 17, 2009
Fluidez
asa de borboleta, ao microscópio
"Não posso separar o prazer estético de ver uma borboleta do prazer científico de conhecer o que ela é"
V. Nabokov
Que se extingam as fronteiras, tudo é cultura. O mundo é um fluido complexo onde as nossas ideias se dissolvem e misturam juntamente com a matéria, onde tudo se entrelaça.
"Não posso separar o prazer estético de ver uma borboleta do prazer científico de conhecer o que ela é"
V. Nabokov
Que se extingam as fronteiras, tudo é cultura. O mundo é um fluido complexo onde as nossas ideias se dissolvem e misturam juntamente com a matéria, onde tudo se entrelaça.
Monday, March 16, 2009
Sunday, March 15, 2009
Saturday, March 14, 2009
"A wise person knows how to improvise"
Thursday, March 12, 2009
sem título
Miquel Wert
Fala
pela mão que tapa a boca
desbrava
a fenda
ouvi dizer
dez homens numa mesa e há oportunidades
que a madeira arde
e a mão derrete
se tu como arma-coração
irrompendo
pelo vidro teu peito
essoutro mecanismo
[tenho a certeza]
de rotinas mais sinceras
que virão
deslizando a crina do pensamento
através deste deserto de ecrãs
um trono agreste
a ser distribuido.
Fala
pela mão que tapa a boca
desbrava
a fenda
ouvi dizer
dez homens numa mesa e há oportunidades
que a madeira arde
e a mão derrete
se tu como arma-coração
irrompendo
pelo vidro teu peito
essoutro mecanismo
[tenho a certeza]
de rotinas mais sinceras
que virão
deslizando a crina do pensamento
através deste deserto de ecrãs
um trono agreste
a ser distribuido.
Wednesday, March 11, 2009
Guantanamera
Banksy
Uma equipa de futebol portuguesa levou uma tareia recentemente num jogo da Liga dos Campeões. À chegada, adeptos descontentes decidiram ir para o estádio transmitir a sua frustração à equipa que apoiam.
Cantaram a seguinte música:
"Uma vergonha, vocês são uma vergonha. Uma vergonha, vocês são uma vergonha." usando a música do clássico cubano "Guantanamera".
Não quero falar da afinação com que o fizeram. O uso da base musical afro-cubana é que tem interesse. Para já, como surge essa decisão de "vamos cantar aquela da «Vergonha» com a música do Guantanamera". Quem é essa cabeça? Depois, o que é transmitido por esta música. Pode ser visto como ridículo ou como brilhante, dependendo de lhe atribuirmos um registo irónico ou não. A ironia vem, claro, do choque tragédia-no-clube/tom-festivo-da-peça.
Aprofundando a excepcionalidade, podemos estar perante uma referência subtil a Guantanamo e à prisão norte-americana no local com a respectiva ideia de tortura que lhe vem associada, tortura essa que os adeptos gostariam de inflingir aos jogadores (através, talvez, do seu talento para cantar).
Uma equipa de futebol portuguesa levou uma tareia recentemente num jogo da Liga dos Campeões. À chegada, adeptos descontentes decidiram ir para o estádio transmitir a sua frustração à equipa que apoiam.
Cantaram a seguinte música:
"Uma vergonha, vocês são uma vergonha. Uma vergonha, vocês são uma vergonha." usando a música do clássico cubano "Guantanamera".
Não quero falar da afinação com que o fizeram. O uso da base musical afro-cubana é que tem interesse. Para já, como surge essa decisão de "vamos cantar aquela da «Vergonha» com a música do Guantanamera". Quem é essa cabeça? Depois, o que é transmitido por esta música. Pode ser visto como ridículo ou como brilhante, dependendo de lhe atribuirmos um registo irónico ou não. A ironia vem, claro, do choque tragédia-no-clube/tom-festivo-da-peça.
Aprofundando a excepcionalidade, podemos estar perante uma referência subtil a Guantanamo e à prisão norte-americana no local com a respectiva ideia de tortura que lhe vem associada, tortura essa que os adeptos gostariam de inflingir aos jogadores (através, talvez, do seu talento para cantar).
Tuesday, March 10, 2009
Transportes públicos
Robert Frank
É todo um micro-ambiente diferente dentro de um autocarro.
Quando se coloca um grupo de pessoas, ou qualquer outro organismo, dentro de um espaço estanque elas tendem a divergir evolutivamente.
É o que acontece neste transporte público. Uma percentagem significativa dos habitantes pura e simplesmente enlouquece, berra e diz palavrões. Uma outra parte torna-se extremamente simpática. Ri, dá conselhos a turistas, mete conversa com qualquer novato naquele mundo.
E envelhece-se, envelhece-se, envelhece-se. ce-se ce-se ce-se
É todo um micro-ambiente diferente dentro de um autocarro.
Quando se coloca um grupo de pessoas, ou qualquer outro organismo, dentro de um espaço estanque elas tendem a divergir evolutivamente.
É o que acontece neste transporte público. Uma percentagem significativa dos habitantes pura e simplesmente enlouquece, berra e diz palavrões. Uma outra parte torna-se extremamente simpática. Ri, dá conselhos a turistas, mete conversa com qualquer novato naquele mundo.
E envelhece-se, envelhece-se, envelhece-se. ce-se ce-se ce-se
Monday, March 9, 2009
21 anos e a crise
Sunday, March 8, 2009
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